
Quando a água conecta territórios: a integração entre Guanabara e Miringuava
No início do mês de maio, a Fundação Grupo Boticário promoveu a segunda imersão entre os movimentos Viva Água dos territórios Guanabara (RJ) e Miringuava (PR). Durante três dias de encontros, trocas e visitas de campo, representantes de organizações parceiras vivenciaram a potência de integrar diferentes realidades em torno de um mesmo propósito: a regeneração das bacias hidrográficas e o fortalecimento das comunidades que delas dependem.

Descobrimos, nessa convivência, as formas que a água encontra para se manifestar em cada território. No recôncavo da Baía de Guanabara, ela é paisagem e floresta: está presente na restauração da Mata Atlântica e nas marés que moldam o modo de vida das comunidades costeiras. Já no território do Miringuava, a água é alimento: move a agricultura familiar, garante a segurança hídrica da Região Metropolitana de Curitiba e brota da terra cultivada com cuidado por quem a protege.
Durante a visita ao território Guanabara, três momentos marcaram profundamente o grupo:
- A apresentação do Sinal do Vale como Biohub, reconhecido pela ONU como um centro de regeneração biorregional. Localizado na Serra da Estrela, o Sinal do Vale atua como um laboratório vivo que prototipa e catalisa soluções práticas para regenerar ecossistemas e comunidades, promovendo uma bioeconomia regenerativa para responder aos desafios do nosso tempo.
- A experiência no Caminho do Recôncavo da Guanabara, uma trilha de longa distância com 110 km de extensão que conecta três centros de restauração e diversas comunidades. Esta trilha, reconhecida oficialmente pela Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (RedeTrilhas) por meio da Portaria GM/MMA nº 1.371, de 15 de abril de 2025, é uma estratégia biorregional para catalisar uma economia regenerativa no recôncavo da Guanabara, promovendo a valorização dos seus ativos ambientais e a superação das desigualdades sociais.
- A vivência na Régua (Reserva Ecológica de Guapiaçu), referência em conservação e monitoramento ambiental da bacia do rio Guapiaçu, mostrando o papel das áreas protegidas na segurança hídrica da região metropolitana do Rio.
- E o lançamento do estudo “Adaptação climática na bacia do Guapi-Macacu”, que sistematiza dados, soluções baseadas na natureza e estratégias de governança para lidar com os efeitos das mudanças climáticas no território — um passo importante rumo a políticas públicas mais integradas e eficazes. Clique aqui para acessar o estudo completo.
O grupo do Miringuava também compartilhou aprendizados relevantes. Um destaque foi o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), prática adotada por agricultores familiares da região que alia produtividade e regeneração ambiental. Ao manter o solo coberto com matéria orgânica e evitar o revolvimento da terra, o sistema protege as nascentes, conserva a umidade, favorece a biodiversidade do solo e aumenta a resiliência das lavouras frente às mudanças do clima.
Mais do que uma troca de experiências, a integração entre os dois territórios revelou uma rede viva, que respeita os ritmos da água e das relações humanas e reforçou o compromisso de fazer da água um elo entre práticas regenerativas e comunidades que cultivam o cuidado com a vida.